5.11.07

Doutores da agonia

Eles utilizaram humanos como cobaias de pesquisas macabras. Agora estudos dizem que essas experiências guardam informações valiosas para a humanidade
Rodrigo Rezende, da Alemanha

"Camarada, por favor, peça ao oficial que acabe conosco com uma bala", suplicou o soldado russo. Depois de 3 horas dentro de um tanque de água gelada, ele já não suportava mais a sensação de congelamento no corpo. "Não espere compaixão daquele cão fascista", respondeu o colega que dividia o tanque com ele. Quando o cientista responsável pelo experimento descobriu o significado das palavras de suas cobaias, retirou-se para o escritório. Voltou com um revólver na mão. Não para atender ao pedido do soldado, mas para ameaçar seus assistentes na experiência. "Não se intrometam. Nem se aproximem deles!" Passaram-se mais duas horas de agonia antes que o alívio da morte chegasse para os russos. Assim como eles, pelos menos outros 300 prisioneiros dos nazistas foram usados em experimentos destinados a entender os efeitos do frio no corpo humano - a hiportermia. A maioria não teve a sorte de um final rápido. Ao chegarem ao limite entre a vida e a morte, eram reanimados e expostos novamente a temperaturas baixas.

As descrições acima são apenas um exemplo de como alguns cientistas alemães se adaptaram ao ideário nazista sob o governo de Adolf Hitler. E não deixam qualquer dúvida de que, eticamente, a ciência produzida na Alemanha entre as décadas de 1930 e 1940 foi repugnante. Os experimentos causaram dor, humilhação e mortes terríveis às pessoas confinadas em campos de concentração - fossem elas judias, ciganas, homossexuais ou qualquer tipo de inimigo do regime. Acontece que os responsáveis por essas "pesquisas" podiam ser sádicos, mas não eram leigos. Pelo contrário. Muitos foram formados nas escolas mais tradicionais do planeta - antes da chegada dos nazistas ao poder, a Alemanha era um dos líderes mundiais em inovação científica. Metódicos como só pesquisadores alemães podem ser, eles sistematizaram as experiências, coletaram dados, chegaram a conclusões. E geraram informações que, além de inéditas na época, nunca mais foram reproduzidas em testes sérios - afinal de contas, e ainda bem, não é todo dia que aparece alguém propondo jogar ácido na pele de um ser humano para entender como nosso corpo reage à substância... (Matéria completa no SuperInteressante)